por José Martino, Publicado em 14 de Março de 2011
Não precisamos quem nos dê lições de senso comum, mas de quem nos possa apoiar divulgando as estratégias ajustadas para fazer crescer e desenvolver a economia e as agriculturas de Portugal
Um articulista conhecido mais pelas suas opiniões e dissertações sobre a economia vista do ângulo financeiro, resolveu descer à economia real. Devo dizer que como agente com interesses no negócio da agricultura fiquei radiante.
O que leva um opinion maker, com coluna em jornais e revistas de prestígio e programa de televisão, a meter os pés e as mãos na terra? Só me ocorre uma resposta: a agricultura está na moda.
Infelizmente, está na moda. Porque, quando a casa ameaça vir abaixo, temos de nos voltar para as coisas mais simples da vida, regressar ao quintal, à terra, ao back to basics. Pode parecer provinciano, mas é esta a realidade que se nos oferece e se oferece ao país quando os responsáveis políticos e os líderes de opinião não são capazes de equacionar um modelo para de-senvolver e criar riqueza nas agriculturas de Portugal.
Enganados estão aqueles que pensam que a agricultura está na Idade Média. Puro engano. Hoje, em Portugal, existem nichos de mercado altamente competitivos, com grande intervenção tecnológica, com mecanismos altamente sofisticados, com gestão do mais alto nível, com grande potencial exportador.
Produzimos hoje com qualidade e valor acrescentado. Falta-nos escala na produção e consequentemente, nas vertentes do marketing e da distribuição. E é aí que o governo deve investir a sério. Diz Camilo Lourenço: "O governo não devia fazer a apologia do investimento na agricultura." Errado.
O articulista fala de produtos com capacidade de gerarem mais-valias, devido à sua melhor adaptação ao nosso solo e clima, e produtos que não têm essa capacidade, como os cereais. Jaime Silva, ex-ministro da Agricultura, já tinha feito essa selecção. O que é necessário é colocar objectivos e metas, plurianuais e anuais, para a dimensão de cada actividade agro-florestal e para a sua criação de riqueza, traduzindo-as em estratégias e planos de acção.
Curiosamente, Camilo Lourenço aponta os exemplos de empresários agrícolas estrangeiros que estão a ganhar dinheiro em zonas como o Alentejo. E diz que esse exemplo devia ser mostrado aos portugueses. Discordo.
Os empresários agrícolas portugueses estão a fazer um trabalho notável em vários subsectores agrícolas, como os kiwis, a castanha, pêra rocha, uva de mesa, entre outros. Precisam tanto da experiência desses empresários estrangeiros como eles precisam da nossa.
O que precisamos, também, é de um Ministério da Agricultura que cumpra os prazos de tramitação dos processos burocráticos de licenciamento que tutela e sobretudo, do pagamento atempado para financiar os projectos agrícolas. Não precisamos quem nos dê lições de senso comum, mas de quem nos possa apoiar divulgando as estratégias ajustadas, com base no "como se faz", para fazer crescer e desenvolver efectivamente, quer a economia, quer as agriculturas de Portugal.
Engenheiro Agrónomo
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